quarta-feira, 9 de julho de 2014

A derrota é órfã...

A gente só enxerga o que quer vê...

A derrota humilhante da seleção brasileira ontem na semifinal da copa de 2014 mostrou o que na verdade todos nós brasileiros queríamos esconder por debaixo do tapete devido ao sentimento de brasilidade e patriotismo que automaticamente nos direciona a torcer pela pátria mãe: O Brasil não tinha e nem tem time para ser campeão.
Desde os primeiros jogos da copa que a intenção dos brasileiros era perceber a sutileza do bom futebol na equipe nacional, mas essa empolgação na verdade nunca aconteceu. O Brasil foi passando na fase inicial, aos trancos e barrancos, amparado nos raros lampejos de genialidade de Neymar e na retranca segura arregimentada por David Luiz e Thiago Silva. O meio de campo mostrava uma total ausência de criatividade para efetuar a ligação rápida com o ataque, onde o Oscar só apareceu na primeira partida e depois sumiu. A troca de volantes passou a predominar no famoso caminhar de trocar seis por meia dúzia. O Hulk não conseguiu inflar, apesar das tentativas inúmeras e da disposição física demonstrada. O Fred na verdade foi um felizardo e conseguiu o que nenhum torcedor brasileiro obteve: comprar ingressos para assistir os jogos de dentro do próprio gramado. Nessa 
sopa de incompetência algumas poucas almas se salvaram, entre as quais podem ser citados a dupla de zagueiros David Luiz e Thiago Silva, o próprio Neymar que aparecia em alguns momentos e desaparecia em outros, o goleiro Júlio César que manteve sua regularidade e dessa vez não comprometeu em nada e o lateral Marcelo que também manteve uma certa regularidade. Quando se torce por uma partida de futebol o que está envolvido na verdade são paixões e, naturalmente, elas cegam por sua própria essência. Desde o começo da copa que foi possível identificar um padrão de regularidade de boas atuações de duas seleções: a Alemanha e a Holanda. 
A Alemanha não chegou aqui por acaso. Ela já vem sendo trabalhada há mais de oito anos quando também perdeu a copa da mundo em casa na semifinal sendo derrotada pela Itália por 2 x 0. A partir de 2008 ela começa a montar sua equipe competitiva e chegou na copa de 2014 no Brasil com um futebol de alto nível. A Holanda já foi três vezes vice-campeã do mundo (1974, 1978 e 2010) e atualmente apresenta um ataque mortal comandado pelo experiente jogador do Bayern de Munique, Arjen Robben. Logo no primeiro jogo da copa enfiou 5 x 1 na Espanha (então campeã do mundo). Essas duas seleções mantiveram sua regularidade de boas atuações, mesmo com os percalços naturais que encontraram pelo caminho contra seleções menores que se retrancaram na tentativa de vencer nos pênaltis. A Argélia tentou dificultar contra a Alemanha, mas foi praticamente massacrada. A Costa Rica se segurou o que pôde e o que não pôde contra a Holanda, mas era evidente e palpável a diferença de qualidade entre as equipes.
Já a Argentina é um Brasil melhorado. Não tem empolgado, pois também depende de lampejos geniais de Messi para fustigar os adversários, mas tem mais consistência de equipe e sempre é um osso duro de roer. Contra a Holanda terá que mostrar muito mais que mostrou até agora, caso contrário corre o risco de sofrer também um mineiraço. Pelo andar da carruagem a tendência é termos uma final entre Alemanha e Holanda. Em minha opinião, a Alemanha tem uma equipe mais compacta e com mais identificação entre os jogadores. A Holanda tem um ataque mais rápido e mortal e historicamente já merece ser campeão do mundo. Mas como em futebol nem sempre dá a lógica, até a Argentina poderá sambar no Brasil de alegria ou "sambar" no Brasil de dor. Quanto ao Brasil é esperar mais quatro anos por outra copa do mundo, montar uma equipe realmente competitiva, fazer um trabalho efetivo de base. Não temos um centroavante e não temos ainda na seleção jogadores de meio campo com criatividade como Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Falcão, Zico, Sócrates, Gerson, ou mesmo um sonho maior como um novo Pelé. De qualquer forma, se ainda serve de consolo, continuaremos sendo ainda a única seleção com cinco campeonatos mundiais conquistados.

                                                         Aquarela do Brasil - Gal Costa


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