segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A história do dominante e o esquecimento cruel do dominado....

Leio o blog do amigo Claudemberg Emídio e vejo ele explicando as razões do feriado estadual de hoje, 03 de Outubro: "O feriado do dia 3 de outubro é uma homenagem aos mortos durante dois massacres. Um ocorrido na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú, no município de Canguaretama, e o outro na Comunidade Uruaçú, em São Gonçalo do Amarante. No total, 151 pessoas foram cruelmente assassinadas por soldados holandeses e índios". Realmente o amigo Berguinho está correto na explicação do dia do feriado estadual, mas poucas pessoas sabem o porquê desses massacres e, principalmente a ausência de explicações de outros massacres mais terríveis ainda cometidos no Rio Grande do Norte no século XVII.

O "massacre" do Engenho Cunhaú ocorreu em 16 de Julho de 1645, onde o padre André de Soveral e outros 70 fiéis católicos foram mortos por soldados holandeses e índios tapuias. Os fiéis participavam da missa dominical na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú, município de Canguaretama, no litoral sul potiguar. Três meses depois, em 3 de outubro de 1645, aconteceu outro martírio, no qual 16 pessoas foram mortas por holandeses. O massacre aconteceu na Comunidade Uruaçu, em São Gonçalo do Amarante, distante de Natal 18 km. Ou seja, na verdade esse número de 151 pessoas mortas é fantasioso e cai pela metade quando chega a verdade histórica expressa nos documentos oficiais.

Esses massacres foram decorrentes das disputas pelo domínio colonial do Nordeste brasileiro entre Portugal e Holanda (que dominaria o Rio Grande do Norte de Dezembro de 1633 a 1654) onde os índios nativos (tapuias e potiguares) foram utilizados como guerreiros pelos holandeses contra os antigos usurpadores portugueses. Os holandeses permitiram a liberdade para os índios, ao contrário dos portugueses que exigiam submissão e efetuavam massacres sem piedade. Pra se ter uma idéia quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1500 havia uma população estimada de 6 milhões de índios na costa litorânea brasileira e um número não estimado no interior. Em 1600, ou seja, em 100 anos de dominação, esse número já tinha sido reduzido para somente 300 mil índios. 
No Rio Grande do Norte não existe uma estimativa oficial de índios no século XVII, mas alguns autores mencionam, que de acordo com documentos militares portugueses, existiria cerca de 15.000 mil índios só na região do Vale do Açu em 1690. Todos foram exterminados em massacres terríveis pelos portugueses que queriam tomar suas terras e implantar sua religião à força. Mencionarei apenas 01 desses massacres:

Entre 26 e 30 de Agosto de 1689, o comandante Domingos Jorge Velho (aquele mesmo do quilombo dos Palmares) mata num só combate na serra da Rajada (localizada no atual municipio de Carnaúba dos Dantas) um total de 1.500 índios nativos, todos passados ao fio da navalha, sem qualque tipo de piedade.

Mas como a História contada é sempre a versão dominante, de acordo com cada época e circunstâncias apresentadas, o Estado do Rio Grande do Norte prefere comemorar feriados com datas relembrando os massacres das vítimas portuguesas e "esquece" de forma intencional as datas dos massacres dos índios nativos, também nossos antepassados e que fazem parte de nossa História e dos grupos sociais que atualmente habitam no Estado.

Para maiores informações referente aos índios do Rio Grande do Norte basta procurar a obra "Os índios tapuias do Rio Grande do Norte", do autor desse blog, a venda em qualquer livraria em Mossoró e em Natal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário