terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O enfadonho discurso do retrovisor....

Um discurso já bastante arcaico originário da comunicação e da linguagem, mas que sempre aparece quando se está no poder é o chamado "discurso do retrovisor". Normalmente os administradores quando assumem os cargos executivos prometem "olhar para frente" sinalizando com obras estruturais, mas sempre colocam a culpa nos administradores pretéritos quando são colocados na parede por suas falhas: é o velho e recalcitrante discurso egocêntrico de que a partir de mim o mundo nasceu e tudo é bom, antes disso era só trevas e escuridão.
Espelhos retrovisores foram adotados em automóveis para aumentar o controle dos motoristas sobre a dirigibilidade. Colocados em locais estratégicos dos carros, os retrovisores puderam ajudar as pessoas a evitar acidentes nos trânsitos de ruas e estradas. Quando, por algum motivo, perdemos a retrovisibilidade, dirigir passa a exigir mais atenção. Sem retrovisores passamos a ficar mais vulneráveis a uma dose maior imprevisibilidades e riscos. Claro que a analogia com o aparato vitráceo dos automóveis não é muito pertinente para o campo político ou social. Primeiro porque, por mais que se queira, é impossível apagar o passado, simplesmente “quebrando o retrovisor”. 
Do ponto de vista sociológico, renegar a História tem sido uma estratégia vinculada aos ditadores de vários matizes. Na extinta União Soviética comunista, Joseph Stálin se notabilizou pela manipulação da História, apagando, literalmente, desafetos políticos de um passado recente.
No clássico da literatura libertária, “1984”, o britânico George Orwell criou o personagem Winston, que na trama trabalha no “Ministério da Verdade”, atualizando notícias e informações para acomodar, constantemente, as posições dos países-continentes em guerras infindáveis.
Quando se propõe o esquecimento do passado estamos, na verdade, dizendo que devemos ignorar nossa história. Foi o que aconteceu com o chamado “fim do comunismo”, simbolizado pela derrubada do muro de Berlim, que alguns teóricos passaram a chamar de “fim da história”. Apagar o passado, destruindo os “retrovisores”, parece ser apenas mais uma estratégia discursiva criada para um momento conjuntural específico, em que parece ser cômodo ao enunciador se desvencilhar de acontecimentos desfavoráveis ocorridos no tempo pretérito.

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